Talvez por termos celebrado mais um dia dos mortos, ou quem sabe, talvez movida pela notícia
Talvez por termos celebrado mais um dia dos mortos, ou quem sabe, talvez movida pela notícia da jovem americana que programou uma morte assistida, o fato é que o tema acima me ocupou boa parte dos pensamentos durante a “finada” semana.
Morte – não importa como a definimos, óbito, falecimento, passamento ou desencarne, continua sendo um tema tabu, embora o único irreversível para aqueles que um dia tiveram a bênção de (re)nascer.
Poetas, artistas, leigos, religiosos, comunistas, cientistas e doutores já tentaram defini-la, mas nesse quesito ficamos apenas com nossas impressões de sensações epidérmicas se contrapondo a sensações interiores.
(Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para aceitar a morte – disse Sigmund Freud).
(Aqueles que se unem a Deus obtêm três grandes privilégios: onipotência sem poder; embriaguez sem vinho e vida sem morte – afirmou São Francisco de Assis).
(A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos - refletiu Pablo Picasso).
O cessamento das atividades biológicas é certamente uma evidência científica da morte, mas o que vem depois disso fica apenas relegado ao plano das crenças e da fé.
Existe vida após a morte? E como será ela? Será ela um estado permanente?
Muitas crenças, com padrões diferentes de conduta, de acordo com as diversas filosofias de vida, nos levam a enfrentá-la de modo adverso.
Nós, ocidentais, somos domados pelo medo do castigo ou pela esperança de uma recompensa. E assim vivemos gemendo e chorando nesse vale de lágrimas, até que somos levados ao paraíso eterno ou ao fogo do inferno, de acordo com nossos atos aqui praticados.
Já os orientais - indianos principalmente - têm uma relação mais espiritual com a morte. Desde sempre são levados a cultuá-la, através de uma mente e de um viver puro, livre de preconceitos, na eterna busca do silêncio interior. O viver terreno é apenas uma caminhada rumo ao mundo real, de onde viemos e ao qual fatalmente retornaremos.
E eu? Fico com a “pureza da resposta das crianças: é a vida e é bonita, é bonita”. Mas, também gosto do sincretismo mexicano que personificou a morte na figura de “Santa Muerte”. A ela dedicam um dia de grande festa, com desfile colorido e muitas iguarias para os espíritos.
A artista Frida Kahlo sintetizou esse viver em seu agir, vestir e em suas fenomenais telas. Na sua arte vê-se um diálogo constante e destemido com aquela que um dia iremos encontrar.
Em distante porvir, assim espero, quero plagiá-la em seu epitáfio que deixou assim registrad “Parto dessa vida de onde pretendo nunca mais retornar.”
(*) Mãe de família