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A Igreja é só dos padres?

Há mais de vinte anos, lembro-me de ter escrito, com este mesmo título, pequeno artigo no saudoso “Compasso”. Para quem sabe que a Igreja é comunhão, a saber: união comum das pessoas

Dom Benedicto de Ulhôa Vieira
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 12:11
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Há mais de vinte anos, lembro-me de ter escrito, com este mesmo título, pequeno artigo no saudoso “Compasso”. Para quem sabe que a Igreja é comunhão, a saber: união comum das pessoas que têm a mesma fé e vivem à luz do Evangelho e do Espírito Santo sob a jurisdição do próprio bispo, é fácil compreender que a Igreja não é só dos padres.

Hoje, pela extensão territorial ou pela enormidade dos prédios de arranha-céus, fica difícil fazer da paróquia verdadeira comunidade de fé e de amor fraterno, sob a orientação pastoral do pároco.

A paróquia, pelo que a Igreja ensina e deseja, é comunidade de pessoas – uma família de Deus –, não uma ignota massa humana. O ideal é transformá-la em colmeia ativa, centro animador de agentes leigos, compenetrados de sua honrosa missão de apóstolos.

É sob este foco animador de tarefas bem distribuídas que o padre tem uma insubstituível função. Se a paróquia se renova ou já se renovou em necessária comunhão de pessoas, todas imbuídas de sua missão de apóstolos, isto é, de ministros não-ordenados, o papel do padre será o de animador e líder desta colmeia alegre, laboriosa e diversificada. Parece-me este o ideal do Papa Paulo VI na “Evangelii Nuntiandi” (nos 70 e 73). Assim idealmente instalada, o padre tem seu nobre papel de inspirador, animador, testemunha e coordenador da comunidade de leigos.

Não sei se é necessário lembrar que os fiéis convictos de sua responsabilidade laical e de sua missão na messe de Senhor não podem apresentar-se como donos da igreja, como também não o é o padre. Mas sim apóstolos por força do sacramento da crisma já recebida e, portanto, apóstolos leigos no mundo. Assim colocada a doutrina eclesiológica, a resposta ao provocante título deste artigo se torna clara como o sol. O dono da Igreja só pode ser o Senhor Jesus.

Igreja viva, Igreja – comunhão não será só do padre. Só se pode sentir a vida de uma comunidade se nela florescerem vários carismas, muitos apóstolos dedicados, sob a liderança do padre, que o bispo colocou à frente da comunidade enriquecida de carismas vários. É o esforço pastoral do padre que se vai exigir para este ideal eclesiológico atual: Igreja comunidade fraterna e apostólica, tendo à frente o padre servidor e dedicado.

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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