Ao longo de uma atribulada vida pública, Paulo Maluf foi alvo de investigações...
Ao longo de uma atribulada vida pública, Paulo Maluf foi alvo de investigações, tanto no Brasil como no exterior. Mediante subterfúgios e patronos talentosos, conseguiu desfazer-se das graves suspeitas que recaíram sobre sua pessoa, conservando invejável prestígio político e um eleitorado fiel.
Dotado de uma rara capacidade de sedução, logrou aproximar-se de tradicionais adversários, como sucedeu na aliança feita com Lula na eleição de Fernando Haddad.
Como sempre esteve próximo do governo, tornou-se prefeito e governador de São Paulo, exercendo sucessivos mandatos legislativos, trocando de siglas partidárias segundo as suas conveniências.
Sobre ele e seus familiares sempre pairou a desconfiança, que ganhou maior expressão à época em que foram descobertas as empresas que mantinha na ilha de Jersey, paraíso fiscal britânico no Canal da Mancha, mantidas à custa do desvio de US$22 milhões, oriundos de recursos provenientes da construção de obras.
Em 2015, a Corte de Apelação do Reino Unido sujeitou-o a restituir à Prefeitura paulista o valor arrebatado dos cofres da municipalidade. Inobstante a repercussão que o fato teve, Maluf jurou inocência com a mesma desfaçatez que anunciou existir petróleo no seu estado natal...
Em todas as condenações surgidas, o parlamentar sempre reiterou a assertiva de que as quantias de que se apossou tinham origem lícita e foram tributadas regularmente.
Atualmente responde a processos instaurados pela Procuradoria-Geral da República, em curso no STF, por crimes de formação de quadrilha, corrupção passiva, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Também pende de solução uma ação de improbidade administrativa na 4ª Vara da Fazenda Pública da capital paulista.
No mês passado, veio à tona a notícia de que Maluf, esposa e filho foram condenados, em outubro de 2015, na 11ª Câmara Criminal de Paris. A ação penal foi consequente de lavagem de dinheiro no montante de US$1,7 milhão, quando da construção do túnel Ayrton Senna e da avenida Água Espraiada.
Este valor foi depositado no banco francês Crédit Agricole, conforme prova feita em ação conjunta pelo Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual.
Maluf e seu filho Flávio foram condenados a três anos de prisão e ao pagamento da multa de 200 mil euros para cada um. já a esposa Sylvia foi apenada com dois anos de prisão, sendo compelida a proceder à restituição de 100 mil euros.
Segundo os advogados do parlamentar (PP-SP), já foi interposta apelação, estando os réus seguros de que serão absolvidos na instância recursal.
O cinismo de Paulo Maluf, aliado ao seu menoscabo à condenação imposta, extravasa os limites da moralidade. Basta lembrar que, em 1986, numa entrevista concedida à “Folha de SP”, não teve pejo em afirmar, após tomar conhecimento de mais uma sentença condenatória: “Eu sou um Davizinho contra os Golias do Brasil”.
É surpreendente que o conhecido político – ao que se sabe – não esteja sendo, até agora, investigado no escândalo da Lava Jato...
(*) Advogado e Conselheiro Nato da OAB, diretor do IAB e do IAMG, presidente da AMLJ
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